“Escreve as coisas que tens visto, e as
que são, e as que depois destas hão de acontecer” (Apocalipse
1.19).
Vamos iniciar assumindo: há um aparente
pleonasmo no título, já que “Apocalipse”, termo grego, significa “revelação”.
Como os termos assumiram ao longo do tempo sentidos distintos, nós o
escolhemos.
João foi desafiado a escrever de acordo
com três tipos diferentes de coisas: as que tens
visto (capítulo 1), as que são (capítulos 2 e 3)
e as que hão de acontecer (capítulos 4 a 22). São
as três partes do Apocalipse que nortearão nosso estudo. A Bíblia de Estudos
NVI – Arqueologia apresenta três temas presentes no livro: Deus está no
controle, Jesus voltará e a salvação é para todos os que a
receberem. João recebeu a revelação do Apocalipse do próprio Senhor Jesus
Cristo quando esteve exilado na ilha de Patmos por pregar o evangelho. O livro
foi escrito no final do século I.
As coisas que eram que
João tinha visto resumem-se na revelação do Senhor Jesus, que aparece como
alguém semelhante ao Filho do Homem descrito de forma muito singular, com
características bastante simbólicas. A visão de Cristo já mostra no primeiro
capítulo o prenúncio de sua segunda vinda e o estabelecimento definitivo do
Reino de Deus, fato que conclui o livro.
Há muitos mistérios no livro, sendo o
primeiro o das sete estrelas e dos sete castiçais de ouro, revelado pelo
Salvador: as estrelas são os anjos das sete igrejas e os castiçais são as sete
igrejas.
As coisas que são vistas
por João referem-se às sete igrejas da Ásia Menor, o primeiro conjunto
de sete do livro, os sete candeeiros. Elas são nomeadas
como Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia. Sem
entrar em detalhes, em cada uma das cartas Cristo faz seu comentário elogiando,
condenando e corrigindo atitudes de cada igreja. Há igrejas mais elogiadas do
que condenadas; há outras com mais condenação do que elogio; uma igreja foi
apenas elogiada, sem condenação: a de Filadélfia; outra foi apenas condenada,
sem nenhum elogio: a de Laodiceia. Foi justamente esta igreja que recebeu de
Cristo a seguinte mensagem: “Eis que estou à porta e bato; se alguém
ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e
ele, comigo”. Na minha opinião, esta é uma das mais melancólicas das
mensagens bíblicas: o Senhor Jesus, aquele que prometeu edificar a sua igreja
de modo que as portas do inferno não prevalecessem sobre ela, está fora da
porta da Igreja de Laodiceia e bate, querendo entrar. É interessante
observar-se que há sempre uma expectativa de arrependimento e mudança de vida,
mesmo neste verso. “Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta” indica
que há sempre a esperança de que haja arrependimento e mudança de vida, mesmo
para aqueles cuja atitude levou o Salvador a declarar “porque você é
morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca”.
As sete cartas do Apocalipse sempre
contêm uma mesma estrutura: introdução do emissor, o Senhor Jesus,
sempre apresentado de forma diferente; comentário contendo elogio
aos pontos fortes da igreja; censura e condenação
dos pontos fracos; correção de rumo, com sugestão de ações
positivas; promessa aos que persistirem na luta. O período das cartas era
historicamente muito difícil, de perseguição por parte do imperador romano
Domiciano; o próprio João estava preso por isso. No entanto, a promessa final à
igreja, mesmo à pior delas, era sempre positiva. Ao vencedor sempre há bênçãos
prometidas. A Laodiceia, por exemplo, Cristo diz através de João: “Ao
vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também
venci e sentei-me com meu Pai em seu trono”. Invariavelmente, a mensagem
final alerta: “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às
igrejas”. Parece um paradoxo dizer a quem tem ouvidos para que ouça; no
entanto, ouvir aí implica também em atender, e não é qualquer voz que deve ser
ouvida e atendida, mas a do Espírito Santo, o Consolador que estaria presente
individual e coletivamente na vida dos seguidores. Temos usado os nossos
ouvidos para ouvir e atender o que o Espírito de Deus nos tem dito?
Estas são as coisas que João viu e as
que são, as duas primeiras partes do estudo do Apocalipse em seus três
primeiros capítulos. A parte mais importante do livro se refere às
coisas que hão de acontecer, contidas no capítulo 4 até o final
do livro, assunto para os próximos textos.
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