quinta-feira, 25 de março de 2021

10. APOCALIPSE: AS COISAS QUE ERAM E AS QUE SÃO

“Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer” (Apocalipse 1.19). 

Vamos iniciar assumindo: há um aparente pleonasmo no título, já que “Apocalipse”, termo grego, significa “revelação”. Como os termos assumiram ao longo do tempo sentidos distintos, nós o escolhemos.

João foi desafiado a escrever de acordo com três tipos diferentes de coisas: as que tens visto (capítulo 1), as que são (capítulos 2 e 3) e as que hão de acontecer (capítulos 4 a 22). São as três partes do Apocalipse que nortearão nosso estudo. A Bíblia de Estudos NVI – Arqueologia apresenta três temas presentes no livro: Deus está no controle, Jesus voltará e a salvação é para todos os que a receberem. João recebeu a revelação do Apocalipse do próprio Senhor Jesus Cristo quando esteve exilado na ilha de Patmos por pregar o evangelho. O livro foi escrito no final do século I.

As coisas que eram que João tinha visto resumem-se na revelação do Senhor Jesus, que aparece como alguém semelhante ao Filho do Homem descrito de forma muito singular, com características bastante simbólicas. A visão de Cristo já mostra no primeiro capítulo o prenúncio de sua segunda vinda e o estabelecimento definitivo do Reino de Deus, fato que conclui o livro.

Há muitos mistérios no livro, sendo o primeiro o das sete estrelas e dos sete castiçais de ouro, revelado pelo Salvador: as estrelas são os anjos das sete igrejas e os castiçais são as sete igrejas.

As coisas que são vistas por João referem-se às sete igrejas da Ásia Menor, o primeiro conjunto de sete do livro, os sete candeeiros. Elas são nomeadas como Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia. Sem entrar em detalhes, em cada uma das cartas Cristo faz seu comentário elogiando, condenando e corrigindo atitudes de cada igreja. Há igrejas mais elogiadas do que condenadas; há outras com mais condenação do que elogio; uma igreja foi apenas elogiada, sem condenação: a de Filadélfia; outra foi apenas condenada, sem nenhum elogio: a de Laodiceia. Foi justamente esta igreja que recebeu de Cristo a seguinte mensagem: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo”. Na minha opinião, esta é uma das mais melancólicas das mensagens bíblicas: o Senhor Jesus, aquele que prometeu edificar a sua igreja de modo que as portas do inferno não prevalecessem sobre ela, está fora da porta da Igreja de Laodiceia e bate, querendo entrar. É interessante observar-se que há sempre uma expectativa de arrependimento e mudança de vida, mesmo neste verso. “Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta” indica que há sempre a esperança de que haja arrependimento e mudança de vida, mesmo para aqueles cuja atitude levou o Salvador a declarar “porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca”.

As sete cartas do Apocalipse sempre contêm uma mesma estrutura: introdução do emissor, o Senhor Jesus, sempre apresentado de forma diferente; comentário contendo elogio aos pontos fortes da igreja; censura e condenação dos pontos fracoscorreção de rumo, com sugestão de ações positivas; promessa aos que persistirem na luta. O período das cartas era historicamente muito difícil, de perseguição por parte do imperador romano Domiciano; o próprio João estava preso por isso. No entanto, a promessa final à igreja, mesmo à pior delas, era sempre positiva. Ao vencedor sempre há bênçãos prometidas. A Laodiceia, por exemplo, Cristo diz através de João: “Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono”. Invariavelmente, a mensagem final alerta: “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Parece um paradoxo dizer a quem tem ouvidos para que ouça; no entanto, ouvir aí implica também em atender, e não é qualquer voz que deve ser ouvida e atendida, mas a do Espírito Santo, o Consolador que estaria presente individual e coletivamente na vida dos seguidores. Temos usado os nossos ouvidos para ouvir e atender o que o Espírito de Deus nos tem dito?

Estas são as coisas que João viu e as que são, as duas primeiras partes do estudo do Apocalipse em seus três primeiros capítulos. A parte mais importante do livro se refere às coisas que hão de acontecer, contidas no capítulo 4 até o final do livro, assunto para os próximos textos.

 

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