“No
primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, Daniel teve um sonho, e certas
visões passaram por sua mente, estando ele deitado em sua cama” (Daniel
7.1).
Analisamos
no texto anterior a visão escatológica de Nabucodonosor da grande estátua
destruída pela pedra. A parte mais importante das profecias escatológicas de
Daniel, porém, está na segunda metade do livro, dos capítulos 7 a 12.
A primeira
profecia aparece em Daniel 7: é a visão dos quatro animais e o Ancião
de dias. Quatro animais saíam do mar; o primeiro era um leão com asas de
águia, ao qual foram arrancadas as asas e recebeu a mente de homem; o segundo
era um urso com três costelas na boca que recebeu ordem de sair para comer
carne; o terceiro animal era um leopardo com quatro cabeças e quatro asas ao
qual foi dado domínio; o quarto animal era terrível e muito forte, tinha dez
chifres e destruía tudo pela frente. Esta visão tem ligação com o sonho de Nabucodonor,
representando os quatro reinos já mencionados: o leão (cabeça da estátua) era a
Babilônia; o urso (tronco da estátua) era a Medo-Pérsia; o leopardo (seu
quadril) era a Grécia; o animal terrível (suas pernas e pés) representava Roma.
Os dez chifres representavam diferentes imperadores de Roma, sendo que surge um
chifre pequeno que derruba três outros chifre, com olhos e boca de homem e
sugere o reino do anticristo. Um Ancião de dias assenta-se num tribunal, mata o
animal dos chifres e retira o poder dos outros animais. Alguém como o Filho do
Homem então recebe o domínio eterno e indestrutível, a glória e o reino sobre
todas as nações: é o reino de Jesus Cristo, o Reino de Deus.
A visão
do carneiro, do bode e do pequeno chifre vem a seguir. Um carneiro com
dois chifres, sendo um maior que o outro, dava marradas para o Ocidente, para o
Norte e para o Sul e nenhum animal o podia resistir. Um bode vem do Ocidente,
com um grande chifre entre os olhos. Ao chegar perto do carneiro, o bode quebra
os dois chifres do carneiro e o vence. Ele engrandeceu-se muito e ninguém o
podia vencer, mas teve seu chifre quebrado e, em seu lugar, nasceram outros
quatro chifres; de um destes chifres nasceu um pequeno chifre, que cresceu até
chegar ao exército dos céus, teve o domínio sobre os exércitos e prosperou em
tudo que fez. Ele desafiou o
príncipe do exército, suprimiu o sacrifício diário oferecido a ele e destruiu o
local do santuário. Uma conversa entre anjos revela que aquela profanação
durará até duas mil e trezentas tardes e manhãs. Gabriel interpreta a visão
para Daniel, revelando que carneiro é o reino Medo-Persa e o bode é o rei da
Grécia; o chifre entre os olhos é Alexandre Magno e os quatro chifres que o
substituíram são seus quatro generais sucessores. O chifre pequeno que cresceu
pode representar Antíoco IV ou até o Anticristo.
A visão
das setenta semanas a seguir também é revelada a Daniel por Gabriel e
talvez seja a mais conhecida e de difícil interpretação. As setenta semanas
representam o tempo decretado para o povo de Daniel “e sua santa
cidade a fim de acabar com a transgressão, dar fim ao pecado, expiar as culpas,
trazer justiça eterna, cumprir a visão e a profecia, e ungir o santíssimo”.
O ponto inicial do período é a promulgação do decreto que manda restaurar e
reconstruir Jerusalém e o seu término será “até que o Ungido, o líder,
venha”. O período é separado em sete semanas e sessenta e duas semanas,
após o que “o Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele; a
cidade e o Lugar Santo serão destruídos pelo povo do governante que virá”.
O fim virá como uma inundação, com guerras até o fim e desolações. O governante
que virá fará uma aliança com muitos durante uma semana, no meio da qual ele
dará fim ao sacrifício e à oferta; numa ala do templo será colocado o
sacrilégio terrível, até que chegue sobre ele o fim que lhe está decretado”.
Citamos
vários trechos em linguagem bíblica, já que é difícil se estabelecer um
consenso sobre o significado da visão. O Ungido aparece em outras versões
bíblicas como o Messias e deve referir-se a Cristo; o Governante que
virá pode representar o Anticristo do final dos tempos. Apesar da
dificuldade de interpretação, as 70 Semanas de Daniel acabaram sendo a profecia
do livro com maior número de interpretações, usada mesmo por alguns ao longo da
história para definir datas específicas para a volta de Cristo. A semana pode
aí representar ano; na verdade, a profecia foi dada a Daniel no final do
cativeiro babilônico que, historicamente, durou setenta anos. Reconstrução de Jerusalém
e do Templo, vinda do Messias, seu sacrifício são fatos históricos já
ocorridos. Outros eventos sugeridos na visão também fazem parte de outras
profecias e vão aparecer com mais detalhes no Apocalipse.
O profeta não entendeu muita coisa que lhe foi revelada, quis saber mais do intérprete Gabriel, mas foi por ele aconselhado: “Quanto a você, siga o seu caminho até o fim. Você descansará e, então, no final dos dias, você se levantará para receber a herança que lhe cabe”. Daniel desfaleceu quando quis ir além das suas forças. Descansemos também nós na certeza de que, como o profeta, nunca seremos capazes de entender tudo em uma profecia, a não ser quando deixarmos de olhar para a realidade espiritual como uma imagem no espelho e a vejamos diretamente, na glória celestial.
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