domingo, 21 de março de 2021

9. PROFECIAS DE DANIEL: AS ESCATOLÓGICAS

“No primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, Daniel teve um sonho, e certas visões passaram por sua mente, estando ele deitado em sua cama” (Daniel 7.1).

Analisamos no texto anterior a visão escatológica de Nabucodonosor da grande estátua destruída pela pedra. A parte mais importante das profecias escatológicas de Daniel, porém, está na segunda metade do livro, dos capítulos 7 a 12.

A primeira profecia aparece em Daniel 7: é a visão dos quatro animais e o Ancião de dias. Quatro animais saíam do mar; o primeiro era um leão com asas de águia, ao qual foram arrancadas as asas e recebeu a mente de homem; o segundo era um urso com três costelas na boca que recebeu ordem de sair para comer carne; o terceiro animal era um leopardo com quatro cabeças e quatro asas ao qual foi dado domínio; o quarto animal era terrível e muito forte, tinha dez chifres e destruía tudo pela frente. Esta visão tem ligação com o sonho de Nabucodonor, representando os quatro reinos já mencionados: o leão (cabeça da estátua) era a Babilônia; o urso (tronco da estátua) era a Medo-Pérsia; o leopardo (seu quadril) era a Grécia; o animal terrível (suas pernas e pés) representava Roma. Os dez chifres representavam diferentes imperadores de Roma, sendo que surge um chifre pequeno que derruba três outros chifre, com olhos e boca de homem e sugere o reino do anticristo. Um Ancião de dias assenta-se num tribunal, mata o animal dos chifres e retira o poder dos outros animais. Alguém como o Filho do Homem então recebe o domínio eterno e indestrutível, a glória e o reino sobre todas as nações: é o reino de Jesus Cristo, o Reino de Deus.

visão do carneiro, do bode e do pequeno chifre vem a seguir. Um carneiro com dois chifres, sendo um maior que o outro, dava marradas para o Ocidente, para o Norte e para o Sul e nenhum animal o podia resistir. Um bode vem do Ocidente, com um grande chifre entre os olhos. Ao chegar perto do carneiro, o bode quebra os dois chifres do carneiro e o vence. Ele engrandeceu-se muito e ninguém o podia vencer, mas teve seu chifre quebrado e, em seu lugar, nasceram outros quatro chifres; de um destes chifres nasceu um pequeno chifre, que cresceu até chegar ao exército dos céus, teve o domínio sobre os exércitos e prosperou em tudo que fez.  Ele desafiou o príncipe do exército, suprimiu o sacrifício diário oferecido a ele e destruiu o local do santuário. Uma conversa entre anjos revela que aquela profanação durará até duas mil e trezentas tardes e manhãs. Gabriel interpreta a visão para Daniel, revelando que carneiro é o reino Medo-Persa e o bode é o rei da Grécia; o chifre entre os olhos é Alexandre Magno e os quatro chifres que o substituíram são seus quatro generais sucessores. O chifre pequeno que cresceu pode representar Antíoco IV ou até o Anticristo.

visão das setenta semanas a seguir também é revelada a Daniel por Gabriel e talvez seja a mais conhecida e de difícil interpretação. As setenta semanas representam o tempo decretado para o povo de Daniel “e sua santa cidade a fim de acabar com a transgressão, dar fim ao pecado, expiar as culpas, trazer justiça eterna, cumprir a visão e a profecia, e ungir o santíssimo”. O ponto inicial do período é a promulgação do decreto que manda restaurar e reconstruir Jerusalém e o seu término será “até que o Ungido, o líder, venha”. O período é separado em sete semanas e sessenta e duas semanas, após o que “o Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele; a cidade e o Lugar Santo serão destruídos pelo povo do governante que virá”. O fim virá como uma inundação, com guerras até o fim e desolações. O governante que virá fará uma aliança com muitos durante uma semana, no meio da qual ele dará fim ao sacrifício e à oferta; numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível, até que chegue sobre ele o fim que lhe está decretado”.

Citamos vários trechos em linguagem bíblica, já que é difícil se estabelecer um consenso sobre o significado da visão. O Ungido aparece em outras versões bíblicas como o Messias e deve referir-se a Cristo; o Governante que virá pode representar o Anticristo do final dos tempos. Apesar da dificuldade de interpretação, as 70 Semanas de Daniel acabaram sendo a profecia do livro com maior número de interpretações, usada mesmo por alguns ao longo da história para definir datas específicas para a volta de Cristo. A semana pode aí representar ano; na verdade, a profecia foi dada a Daniel no final do cativeiro babilônico que, historicamente, durou setenta anos. Reconstrução de Jerusalém e do Templo, vinda do Messias, seu sacrifício são fatos históricos já ocorridos. Outros eventos sugeridos na visão também fazem parte de outras profecias e vão aparecer com mais detalhes no Apocalipse.

O profeta não entendeu muita coisa que lhe foi revelada, quis saber mais do intérprete Gabriel, mas foi por ele aconselhado: “Quanto a você, siga o seu caminho até o fim. Você descansará e, então, no final dos dias, você se levantará para receber a herança que lhe cabe”. Daniel desfaleceu quando quis ir além das suas forças. Descansemos também nós na certeza de que, como o profeta, nunca seremos capazes de entender tudo em uma profecia, a não ser quando deixarmos de olhar para a realidade espiritual como uma imagem no espelho e a vejamos diretamente, na glória celestial. 

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