“Daniel, contudo, decidiu não se tornar impuro com a comida e com o
vinho do rei, e pediu ao chefe dos oficiais permissão para se abster
deles” (Daniel 1.8).
Cerca de seis séculos antes de Cristo
viveu Daniel, um jovem que, ainda na adolescência, foi levado cativo para a
Babilônia. O Reino de Judá esteve no cativeiro babilônico de 606 a.C. a 536
a.C., tendo Daniel permanecido na Babilônia todo esse período, convivendo com o
domínio babilônico e com o medo-persa. Durante praticamente todo esse tempo
deve ter servido na corte de Nabucodonor, Naborido (embora não mencionado no
livro), Belsazar, Ciro e Dario.
O historiador judaico Flávio Josefo
apresenta Daniel como um israelita de descendência nobre real que, junto aos
exilados, foi levado para a Babilônia por Nabucodonosor, no terceiro ano de
Joaquim. Os demais conhecimentos que temos sobre ele provêm do livro que leva o
seu nome, escrito na década de 530 a.C., contendo doze capítulos. No livro, os seis
primeiros capítulos são mais voltados para a realidade da corte babilônica, e
os seis últimos são proféticos e escatológicos. Este texto refere-se aos seis
primeiros.
As profecias escatológicas de Daniel
sobre o final dos tempos começam com o capítulo 2, onde se relata o sonho
de Nabucodonosor com uma grande estátua feita de cinco materiais diferentes; a
parte escatológica do sonho está na grande pedra que aparece no final. No
capítulo 7 temos o sonho de Daniel com quatro animais, sendo o último aterrorizante;
o oitavo nos traz a visão de Daniel do Carneiro e o Bode, já no reinado
de Belsazar; o nono relata a visão das 70 semanas; do décimo ao
último, temos as visões do tempo do fim, com o homem vestido de linho, os reis
do Sul e do Norte e a angústia e tribulação dos tempos do fim.
O nome Daniel tem origem hebraica e
significa “Deus é meu juiz”. juntamente com Daniel, foram levados cativos três
amigos. Era costume os cativos terem seus nomes mudados usando vocábulos
babilônicos; assim sendo, os nomes dos amigos passaram a ser: Hananias se
chamou Sadraque, Misael foi mudado para Mesaque e Azarias foi conhecido como
Abedênego. Os nomes no mundo antigo eram significativos e em geral enalteciam
os deuses dos diferentes reinos. Daniel também teve seu nome mudado para
Beltessazar, que significa “que Baal proteja o rei”. Apesar da mudança de nome
havida, ele continuou e continua sendo conhecido como “Deus é meu juiz”, ou
seja, Daniel. Já os seus amigos... Não se sabe se Daniel voltou à Terra
Prometida com o retorno do povo ou se foi enterrado na Babilônia.
O Livro de Daniel é chamado por muitos
de o Apocalipse do Antigo Testamento, tantas são as revelações
sobre os tempos do fim, as quais ajudam a interpretar muitas profecias do livro
de Apocalipse. Começa, como afirmamos, com o capítulo 2, relatando a imagem
do sonho de Nabucodonosor. A cabeça da estátua era de ouro,
representando o reino da Babilônia; os braços e o peito de prata simbolizavam o
reino da Medo-Pérsia que viria a seguir; o ventre e os quadris de bronze
aludiam ao império grego; as pernas de ferro e os pés de ferro e barro
apontavam para o Império Romano. Apenas a Babilônia era presente no momento da
narrativa bíblica; os demais reinos eram futuros e, portanto, proféticos. A
grande pedra, que é cortada sem auxilio de mãos e que destrói a estátua e se
transforma numa grande montanha que cobre toda a Terra, é o que torna esse
sonho de um rei pagão escatológico: afirma Daniel interpretando o significado
da grande pedra: “Na época desses reis, o Deus dos céus estabelecerá um
reino que jamais será destruído e que nunca será dominado por nenhum outro
povo. Destruirá todos os reinos daqueles reis e os exterminará, mas esse reino
durará para sempre”. A interpretação de Daniel nos remete ao final dos
tempos, após o julgamento das nações, com a vinda definitiva do Reino de Deus.
As histórias vividas por Daniel e seus
companheiros são muito conhecidas de todos e vamos aqui somente mencioná-las.
Seus três amigos na fornalha, o banquete de Belsazar com a mão escrevendo na
parede, a cova dos leões, são eventos bíblicos, edificantes, mas nada têm a ver
com a escatologia. Nos seis primeiros capítulos do livro, apenas o sonho de
Nabucodonosor interpretado por Daniel tem ligação com o final dos tempos e,
mesmo assim, apenas na figura da pedra que reduziu a estátua em pó. Realmente,
as profecias escatológicas apontam para um final dos tempos nos quais a pedra
da esquina, que representa Cristo, tornada muito maior para abarcar a ideia do
Reino de Deus, tornará em pó todas as realizações humanas, individuais e
coletivas, com a vinda dos novos céus e nova terra. Nesse reino, conforme
afirma Paulo em 1 Coríntios, “é necessário que aquilo que é corruptível
se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de
imortalidade. Quando, porém, o que é corruptível se revestir de
incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a
palavra que está escrita: ‘A morte foi destruída pela vitória’”.
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