domingo, 21 de março de 2021

8. PROFECIAS DE DANIEL: AS HISTÓRICAS

“Daniel, contudo, decidiu não se tornar impuro com a comida e com o vinho do rei, e pediu ao chefe dos oficiais permissão para se abster deles” (Daniel 1.8).

Cerca de seis séculos antes de Cristo viveu Daniel, um jovem que, ainda na adolescência, foi levado cativo para a Babilônia. O Reino de Judá esteve no cativeiro babilônico de 606 a.C. a 536 a.C., tendo Daniel permanecido na Babilônia todo esse período, convivendo com o domínio babilônico e com o medo-persa. Durante praticamente todo esse tempo deve ter servido na corte de Nabucodonor, Naborido (embora não mencionado no livro), Belsazar, Ciro e Dario.

O historiador judaico Flávio Josefo apresenta Daniel como um israelita de descendência nobre real que, junto aos exilados, foi levado para a Babilônia por Nabucodonosor, no terceiro ano de Joaquim. Os demais conhecimentos que temos sobre ele provêm do livro que leva o seu nome, escrito na década de 530 a.C., contendo doze capítulos. No livro, os seis primeiros capítulos são mais voltados para a realidade da corte babilônica, e os seis últimos são proféticos e escatológicos. Este texto refere-se aos seis primeiros.

As profecias escatológicas de Daniel sobre o final dos tempos começam com o capítulo 2, onde se relata o sonho de Nabucodonosor com uma grande estátua feita de cinco materiais diferentes; a parte escatológica do sonho está na grande pedra que aparece no final. No capítulo 7 temos o sonho de Daniel com quatro animais, sendo o último aterrorizante; o oitavo nos traz a visão de Daniel do Carneiro e o Bode, já no reinado de  Belsazar; o nono relata a visão das 70 semanas; do décimo ao último, temos as visões do tempo do fim, com o homem vestido de linho, os reis do Sul e do Norte e a angústia e tribulação dos tempos do fim.

O nome Daniel tem origem hebraica e significa “Deus é meu juiz”. juntamente com Daniel, foram levados cativos três amigos. Era costume os cativos terem seus nomes mudados usando vocábulos babilônicos; assim sendo, os nomes dos amigos passaram a ser: Hananias se chamou Sadraque, Misael foi mudado para Mesaque e Azarias foi conhecido como Abedênego. Os nomes no mundo antigo eram significativos e em geral enalteciam os deuses dos diferentes reinos. Daniel também teve seu nome mudado para Beltessazar, que significa “que Baal proteja o rei”. Apesar da mudança de nome havida, ele continuou e continua sendo conhecido como “Deus é meu juiz”, ou seja, Daniel. Já os seus amigos... Não se sabe se Daniel voltou à Terra Prometida com o retorno do povo ou se foi enterrado na Babilônia.

O Livro de Daniel é chamado por muitos de o Apocalipse do Antigo Testamento, tantas são as revelações sobre os tempos do fim, as quais ajudam a interpretar muitas profecias do livro de Apocalipse. Começa, como afirmamos, com o capítulo 2, relatando a imagem do sonho de Nabucodonosor. A cabeça da estátua era de ouro, representando o reino da Babilônia; os braços e o peito de prata simbolizavam o reino da Medo-Pérsia que viria a seguir; o ventre e os quadris de bronze aludiam ao império grego; as pernas de ferro e os pés de ferro e barro apontavam para o Império Romano. Apenas a Babilônia era presente no momento da narrativa bíblica; os demais reinos eram futuros e, portanto, proféticos. A grande pedra, que é cortada sem auxilio de mãos e que destrói a estátua e se transforma numa grande montanha que cobre toda a Terra, é o que torna esse sonho de um rei pagão escatológico: afirma Daniel interpretando o significado da grande pedra: “Na época desses reis, o Deus dos céus estabelecerá um reino que jamais será destruído e que nunca será dominado por nenhum outro povo. Destruirá todos os reinos daqueles reis e os exterminará, mas esse reino durará para sempre”. A interpretação de Daniel nos remete ao final dos tempos, após o julgamento das nações, com a vinda definitiva do Reino de Deus.

As histórias vividas por Daniel e seus companheiros são muito conhecidas de todos e vamos aqui somente mencioná-las. Seus três amigos na fornalha, o banquete de Belsazar com a mão escrevendo na parede, a cova dos leões, são eventos bíblicos, edificantes, mas nada têm a ver com a escatologia. Nos seis primeiros capítulos do livro, apenas o sonho de Nabucodonosor interpretado por Daniel tem ligação com o final dos tempos e, mesmo assim, apenas na figura da pedra que reduziu a estátua em pó. Realmente, as profecias escatológicas apontam para um final dos tempos nos quais a pedra da esquina, que representa Cristo, tornada muito maior para abarcar a ideia do Reino de Deus, tornará em pó todas as realizações humanas, individuais e coletivas, com a vinda dos novos céus e nova terra. Nesse reino, conforme afirma Paulo em 1 Coríntios, “é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade. Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: ‘A morte foi destruída pela vitória’”.

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