Somos seres humanos, criados à
imagem de Deus, mas limitados a viver apenas o momento presente no local onde
nos encontramos, que costumamos representar pelos
advérbios aqui e agora. Embora dotados de muitas
capacidades pelo Criador, como o raciocínio, dada a limitação das condições
humanas, torna-se muito difícil entendermos certas coisas, principalmente
quando elas dizem respeito ao reino espiritual. Para tentar definir e
compreender Deus, o ser humano criou a Teologia, a ciência de estudo e conhecimento
do Criador; modernamente, após levantamento de dezenas de adjetivos que
identifiquem a Deus, fixamo-nos em duas qualidades: a imanência e a
transcendência de Deus.
A imanência
e a transcendência de Deus dizem respeito à relação do Criador com a Criação;
quando nos referimos a Deus como totalmente superior e acima de sua criação,
nós o consideramos transcendente, ou seja, existente além das coisas
criadas; quando nos referimos a Deus como imanente, estamos afirmando que ele
participa ativamente de sua criação, incluindo aí o ser humano. Transcendência
e imanência são qualidades que vão juntas, definindo o mesmo Ser Criador. Em
Jeremias, por exemplo, Deus questiona: “Sou eu apenas Deus de perto, diz o
Senhor, e não também Deus de longe? Poderá alguém esconder-se sem que eu o
veja? – diz o Senhor. Não sou eu aquele que enche os céus e a terra?”
Sendo
transcendente, Deus é superior, sublime, santo, justo, onisciente, onipotente,
onipresente, autossuficiente, auto existente e outros adjetivos que
poderiam ser acrescentados. Sendo imanente, Deus é amoroso, fiel, gracioso,
bondoso, misericordioso, confortador, disponível, interessado, além de outras
qualidades. Paulo afirmou que Deus não está longe de cada um de nós, “pois
nele vivemos, nos movemos e existimos”.
A imanência
de Deus considera que ele realiza parte de sua obra por intermédio da Criação,
usando a tecnologia e as habilidades humanas para agir neste mundo. Mostra
também Deus utilizando diferentes tipos de pessoas e organizações no
cumprimento de seus propósitos, mesmo que não pertençam ao seu Reino, como os
reis da Assíria e da Babilônia para juízo sobre Israel. Mostra ainda que,
apesar de Deus habitar de forma especial apenas nos redimidos, ele também está
presente num nível mais geral em todas as pessoas, visto que todos os seres
humanos refletem a sua imagem. A transcendência nos mostra Deus assentado num
alto e sublime trono, ou seja, elevado e exaltado sobre tudo e todos, numa
grandeza inalcançável. Significa que ele é infinitamente superior à sua
criação, um ser divino e singular totalmente diferente de qualquer uma de suas
criaturas. Seus atributos vão infinitamente além dos nossos. “Porque os
meus pensamentos não são os vossos pensamentos; nem os vossos caminhos são os
meus caminhos, diz o Senhor; porque, assim como os céus são mais altos do que a
terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os
meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos”, afirmou o Senhor
por meio de Isaías.
Como seres
finitos, jamais poderemos conhecer plenamente a natureza de um Deus infinito e
transcendente. Tudo o que sabemos sobre Deus não vem de nossas próprias
descobertas, mas do conhecimento que ele mesmo resolveu nos revelar sobre si.
Além disso, a transcendência de Deus deixa claro que há uma diferença muito
grande entre nós e ele. A doutrina da transcendência de Deus é um convite à
reverência. Por mais que Deus aja de forma imanente em nossas vidas e por meio
dela, por mais que Ele habite em nós e estabeleça um relacionamento conosco,
tudo isso é dádiva sua para nós e devemos sempre nos dirigir a ele com o temor
adequado. Não temos direito e condições de exigir nada dele. Embora possamos
levar diante dele nossas ansiedades e petições, devemos manter em mente que é a
sua vontade que prevalece.
A
transcendência de Deus nos leva a crer que ele intervém de forma direta,
especial e sobrenatural neste mundo de acordo com os seus propósitos. Se a
imanência de Deus indica que ele pode agir por intermédio de nosso esforço, a
transcendência de Deus também indica que, de acordo com a sua vontade, ele pode
realizar milagres que estão além da compreensão humana.
O Pr. John
Piper, em seu livro “Corona vírus e Cristo”, convida seus leitores:
"Venham para a Rocha: um fundamento sólido, justo, soberano sobre tudo,
mas de muita doçura no seu reinado." Tenhamos sempre temor pela
transcendência de Deus, mas busquemo-lo pelas suas qualidades imanentes, pois
ele prometeu estar com seus seguidores todos os dias, até a consumação dos
séculos.
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